08 julho 2020

Facebook derruba rede de contas ligadas ao clã Bolsonaro e deputados do PSL


O Facebook desarticulou nesta quarta-feira (8) uma rede de 73 contas, 14 páginas e um grupo na rede social e no Instagram de funcionários de gabinete do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), além de envolvidos com o PSL, partido pelo qual o presidente se elegeu.

As remoções ocorreram porque estas páginas empregavam ações vetadas pela plataforma, como o uso de contas falsas, envio de spam ou adoção de ferramentas artificiais para ampliar a presença online.
Também nesta quarta-feira, a empresa derrubou outras redes coordenadas desse tipo nos Estados Unidos, na Ucrânia e em outros países da América Latina.

No Brasil, ainda que os envolvidos tenham tentado disfarçar suas identidades, o Facebook conseguiu constatar sua ligação com pessoas ligadas ao PSL e funcionários dos deputados estaduais Anderson Moraes e Alana Passos (ambos do PSL-RJ) e ao clã Bolsonaro. Segundo a rede social, não há indícios de que os parlamentares, assim como Eduardo e Jair Bolsonaro, estejam envolvidos diretamente.

"Apenas atribuímos o que podemos provar. E removemos toda parte da rede. Vimos conexões com o PSL e com funcionários dos gabinetes das pessoas que mencionamos e o envolvimento direto deles", afirma Nathaniel Gleicher, líder de políticas de segurança do Facebook.

As contas divulgavam postagens e memes sobre política e eleições, além de críticas a figuras da oposição, organizações de mídia e jornalistas. Mais recentemente o grupo passou a distribuir textos, vídeos e fotos sobre a pandemia de coronavírus.

Algumas das imagens divulgadas pelo Facebook mostravam posts sobre o ex-ministro Sergio Moro e uma publicação que acusava a TV Globo de inventar falsas mortes por covid-19.

O Facebook não detalha se esses conteúdos continham fake news ou não. Informa apenas que a rede não foi desarticulada por causa disso, mas sim por se passar por outras pessoas. A empresa acrescenta que alguns dos posts já haviam sido alvo de remoções por violarem regras do site, como a que proíbe discurso de ódio. Ao todo, foram desmobilizados no Brasil:

  • 35 contas no Facebook 
  • 38 contas no Instagram 
  • 14 páginas 
  • 1 grupo no Facebook 

Essa rede possuía:

  • 883 mil seguidores no Facebook
  • 350 inscritos no grupo
  • 917 mil seguidores no Instagram

Em outros países foram desativadas:

  • Canadá e Equador: 41 contas e 77 Páginas no Facebook, e 56 contas no Instagram
  • Ucrânia: 72 contas e 35 Páginas no Facebook, e 13 contas no Instagram
  • EUA: 54 contas e 50 Páginas do Facebook, e quatro contas no Instagram
A companhia identificou ainda que o grupo gastou US$ 1,5 mil (R$ 8.020 na cotação atual) com anúncios.


A empresa Atlantic Council, que auxiliou o Facebook na operação, divulgou alguns detalhes das pessoas ligadas à derrubada. Uma delas é Eduardo Guimarães, do gabinete de Eduardo Bolsonaro, e que o UOL já havia adiantado estar conectado a contas que direcionavam ataques virtuais.

O tipo de conduta que levou à sanção é chamada pelo Facebook de "comportamento inautêntico coordenado", porque os infratores tentam enganar usuários da rede social ao assumir a identidade de outras pessoas. A rede social identificou, por exemplo, que o grupo usava essas contas para se passar por repórteres ou por administradores de veículos de notícias.

Em nota, o senador Flávio Bolsonaro disse que "pelo relatório do Facebook, é impossível avaliar que tipo de perfil foi banido e se a plataforma ultrapassou ou não os limites da censura. Julgamentos que não permitem o contraditório e a ampla defesa não condizem com a nossa democracia, são armas que podem destruir reputações e vidas".

O deputado Anderson Moraes apontou que seu perfil verificado não sofreu remoção ou bloqueio, mas uma conta "real" de uma pessoa de seu gabinete foi removida. Ele chamou a remoção de "absurda e autoritária". Ele apontou ainda que a ação é contra a "liberdade de expressão e princípios democráticos".

A deputada estadual Alana Passos informou que não foi notificada pelo Facebook sobre irregularidades ou violação de regras de suas contas, que "são verificadas e uso para divulgar minha atuação como parlamentar e posições políticas". Sobre perfis de pessoas que trabalharam no meu gabinete, a parlamentar disse: "não posso responder pelo conteúdo publicado. Nenhum funcionário teve a rede bloqueada por qualquer suposta irregularidade".

O PSL respondeu que os políticos citados "na prática já se afastaram do PSL há alguns meses com a intenção de criar um outro partido" [o Aliança pelo Brasil] e que "o próprio PSL tem sido um dos principais alvos de fake news proferidos por este grupo". Além disso, o partido não teria tido contas apagadas.

Tilt aguarda posicionamentos da assessoria do presidente Jair Bolsonaro. Também foi tentado contato com o gabinete de Eduardo Bolsonaro, que não atendeu às ligações nem respondeu a emails. Esta notícia será atualizada com suas respostas à reportagem sobre o caso.

Por Helton Simões Gomes, De Tilt

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