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Waldir Maranhão
(27.01.2022)
Muito
tem se falado sobre a tensão que toma conta do cenário internacional por causa
de iminente invasão da Ucrânia por tropas militares russas.
O
noticiário tem dado destaque ao tema, principalmente porque, a se consumar o
plano do presidente Vladimir Putin, não se deve descartar um perigoso conflito
bélico na região, já que os Estados Unidos e a Organização do Tratado do
Atlântico Norte (Otan) estão prontos para uma reação.
Com
participação menor no cenário das grandes potências, Putin está incomodado com
a proximidade da Ucrânia com a União Europeia, que tenta ganhar relevância
geopolítica com o episódio.
Putin,
que precisa esticar a corda ao máximo para desviar os olhares ora focados na
crise econômica do seu país, entende que com o desmonte da União Soviética, em
dezembro de 1991, a Ucrânia ficou com parte do território pertencente à Rússia.
Esse
entendimento explica a tomada da Crimeia em 2014 por tropas russas. Vladimir
Putin alegou na ocasião, e continua mantendo o discurso, que a Península da
Crimeia é estratégica para a Rússia.
Na
verdade, Putin, um ditador inegável, tenta criar uma cortina de fumaça para
esconder os muitos problemas existentes no país. Além disso, uma eventual
invasão da Ucrânia levaria o Kremlin a considerar novos avanços sobre os
territórios de antigas repúblicas soviéticas, sempre sob a mesma alegação.
Para
não ficar de fora do protagonismo internacional, Putin conquistou um aliado
importante nessa queda de braços com o Ocidente: a China. O governo de Pequim,
que se equilibra sobre a ideologia comunista e o capitalismo selvagem, olha
muito além do conflito entre os russos e o Ocidente. Quer desestabilizar os
Estados Unidos no campo internacional.
Caso
a invasão da Ucrânia aconteça de fato, como pretende Putin, surgirá no
horizonte um caminho para nações nada democráticas invadirem outros
territórios, como é o caso que contrapõe China e Taiwan.
Enquanto
mantém um regime “linha dura”, a China há muito conquista comercialmente outras
regiões do planeta. A presença chinesa na África é inegável e tende a crescer
nos próximos anos. Isso também ocorre em alguns países da Europa, que em meio a
crises acabaram se rendendo ao capital chinês.
Pequim,
que duela constantemente com Washington, quer que os Estados Unidos atendam às
reivindicações do mandatário russo. Até o momento, as negociações diplomáticas
em torno do tema fracassaram, produzindo reflexos na economia global.
Se
por um lado o preço do petróleo preocupa, por outro a dependência europeia em
relação ao gás natura russo é uma realidade. Por isso a Alemanha, cuja
indústria é dependente do gás fornecido pela Rússia, trabalha para solucionar o
conflito. Em outras palavras, Moscou tem o gás como trunfo, mas também depende
dos recursos que gera.
Muitos
perguntarão quais os reflexos da crise internacional, que pode terminar em
guerra, no Brasil e no meu estado, o Maranhão.
Sem
que ao menos um pavio tenha sido aceso até o momento, a economia do planeta já
sente os efeitos da crise. O preço do barril de petróleo aumentou, provocando
efeito cascata na economia de muitos países. E no Brasil esses efeitos já são
sentidos.
Com
a disparada do preço do petróleo, que impacta na gasolina e no diesel, o custo
do transporte de mercadorias fica mais caro. Considerando que o Brasil é um
país com dimensões continentais e dependente do transporte rodoviário, o
encarecimento dos produtos é questão de tempo. Sem contar o reflexo da crise internacional
na inflação.
No
Maranhão, considerado um dos mais pobres estados brasileiros, a fome, a miséria
e a disparidade social são persistentes, sem que até agora os presidenciáveis
tenham tratado do assunto em seus discursos de pré-campanha. Por outro lado, o
mantra do atual governo – “menos Brasília, mais Brasil” – continua no campo da
retórica.
A
crise internacional que surge a partir da Ucrânia tem provocado efeitos danosos
por toda parte, inclusive no Maranhão, que precisa buscar solução utilizando os
próprios recursos naturais.
Longe
de ser um estado eminentemente urbano, o Maranhão tem grandes áreas agriculturáveis,
ou seja, é capaz de produzir alimentos para matar a fome do nosso povo e também
para além de nossas fronteiras.
É
inaceitável fechar os olhos para uma dura realidade, que sabota a dignidade dos
maranhenses, sabendo que a solução está em nosso próprio estado. Bastam
planejamento, visão estratégica e vontade política.
O
Maranhão, além das terras prontas para a agricultura, é dotado de portos de
grande calado, os quais permitem a exportação da própria produção e de outros
estados. Temos condições de produzir alimentos e também de exportá-los.
Os
políticos do Maranhão precisam descer dos palanques e inteirar-se da tragédia
que se abate sobre a população. É necessário abrir os olhos para a realidade
que nos cerca, seja daqui ou de fora.
Torço
para que o conflito envolvendo a Ucrânia se resolva com diálogo, mas não posso
aceitar o marasmo de sempre. Como disse o imperador romano Júlio César, às
margens do Rio Rubicão, “a sorte está lançada”.