A Câmara de São Luís realizou a live “Racismo: um elemento estruturante da sociedade brasileira”, na noite de ontem (17), em alusão ao Mês da Consciência Negra. O evento digital aconteceu por meio do perfil @camaraslz no aplicativo Instagram e continua disponível para visualização dos interessados.
A live contou com a moderação de um dos psicólogos da Casa Legislativa, Mauro Brandão, e com a presença da doutora em Políticas Públicas e professora do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Carla Serrão, na condição de convidada.
Ao iniciar a live, Carla Serrão explicou que racismo é um elemento estruturante da sociedade e abordou os principais impactos dele na sociedade. “O racismo é um produto social. É algo que a sociedade construiu e nasce a partir do interesse de alguns grupos, na verdade. Então, é uma construção social e a gente pode afirmar que ele é um produto de um momento da história humana no qual a raça é definida como um recurso para distinguir pessoas, categorizar e conceituar grupos humanos a partir de suas particularidades e características”, disse.
A convidada ainda acrescentou à fala a explicação de como o racismo se sustenta na sociedade. “O racismo se sustenta da crença de que alguns grupos humanos são superiores a outros. E essa supremacia ou superioridade seria justificada a partir de elementos como cor da pele, origem, cultura e religião que são aspectos de identificação dos grupos que normalmente são racializados”, complementou Carla Serrão.
A professora e assistente social também abordou o porquê é importante ser debatida a questão do racismo. “É imprescindível abordar o racismo, porque ele nasce e se consolida dentro das relações sociais, dentro dessas relações que vão dando corpo para a ideia de raça, para a ideia de gênero, para a ideia de classe e que vão afetando a vida de algumas pessoas e de alguns corpos de uma forma muito profunda. Então, é necessário discutir o racismo, discutir raça, discutir violência e discutir preconceito, porque esses são temas que estão imbricados e envolvidos e que têm o nascedouro lá na nossa origem, no processo de colonização do nosso País”, assinalou Carla Serrão.
A professora também ressaltou que democracia racial é um mito e justificou o pensamento ao explicar a quem favorece aquele discurso e quais implicações sociais decorrem dele. “Não se pode deixar de dizer isso: a democracia racial é um mito. É um mito difundido historicamente como se fosse uma característica da sociedade brasileira. Isso já foi motivo de orgulho nacional. As pessoas diziam: ‘A gente vive em um país tranquilo onde nós não temos problemas raciais. Nós temos, na verdade, uma relação harmônica entre as pessoas negras, brancas, indígenas’. Esse é um discurso que sempre serviu aos interesses da elite branca, das elites responsáveis pela condução da economia, da política, da vida pública. O mito da democracia racial favorece a um comportamento passivo, de aceitação da condição que essa população empobrecida, negra tem frente aos problemas que afetam as vidas delas. Ao mesmo tempo, essa ideia de democracia se configura como uma barreira para movimentos que resistam, que busquem emancipação e direitos”, assinalou Carla Serrão.
Além de promover as discussões e reflexões já citadas, a convidada também abordou temas como “Lei de Cotas”, “Prejuízos de se negar a existência do racismo no Brasil” e “O colorismo no País”, bem como teceu comentários acerca da relevância de existir um mês dedicado à Consciência Negra.
“Primeiramente é um contraponto ao 13 de maio. A gente pretende desmistificar a ideia de que uma princesa de origem portuguesa concedeu de forma muito piedosa a liberdade às pessoas que eram escravizadas. É uma tentativa de rompimento com esse entendimento e também um reforço à imagem de um homem que tem um simbolismo muito grande para a história de resistência da população negra. Em 20 de novembro, dia da Consciência Negra, temos a data de morte de Zumbi dos Palmares. É um mês que homenageia Zumbi dos Palmares. É uma data que tem um simbolismo muito grande porque Zumbi dos Palmares representa a resistência do povo negro a todas as atrocidades a que foram submetidos. Ao mesmo tempo, é um mês que nos convoca à tomada de consciência da história sobre um novo viés, sobre um novo olhar e uma nova perspectiva, contrariando tudo aquilo que nos foi passado ao longo dos processos de formação escolar. É sempre uma história tratada a partir do olhar do dominante”, assinalou Carla Serrão.
A professora e assistente social complementou o raciocínio ao explicar que as reflexões feitas no mês dedicado à Consciência Negra podem contribuir para a construção de uma outra sociedade brasileira. “O mês de novembro oportuniza trazer à luz uma parte da história do Brasil que ficou guardada e maquiada por muito tempo. Ao mesmo tempo que oportuniza trazer isso à luz, nos convoca à construção de um país no qual as pessoas que atualmente são estigmatizadas, racializadas e oprimidas tenham direito à voz, em uma outra sociedade, em um contexto participativo em que elas possam falar das suas dores, das suas dificuldades e das negações a que foram submetidas; mas também possam falar dos seus sonhos, dos seus desejos e daquilo que elas projetam para suas vidas”, acrescentou Carla Serrão.
Vale registrar que o evento foi realizado pela Diretoria de Comunicação, por meio do Departamento de Comunicação Organizacional; pelo Setor de Recursos Humanos, por meio da Psicologia; e pelo Departamento Médico de Assistência aos Servidores, por meio do Serviço Social.
Fonte: Câmara Municipal de São Luís
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