SÃO LUÍS – Em meio à quinta paralisação do transporte coletivo em menos de cinco anos, um documento produzido ainda em 2022 voltou ao centro do debate sobre a mobilidade urbana da capital maranhense. Trata-se do relatório final da CPI do Transporte Coletivo, elaborado pelo então vereador e relator da comissão, Álvaro Pires (PSD). O material, entregue à Prefeitura de São Luís, ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas, continha um conjunto de medidas consideradas fundamentais para reverter anos de colapso no sistema — mas acabou arquivado sem avanços concretos.
À época, Pires defendia que o relatório não deveria ser apenas uma peça investigativa, mas um guia técnico para reorganizar o transporte público da capital. Hoje, diante de mais um movimento grevista, o ex-parlamentar afirma que o desmonte do sistema é consequência direta da falta de ação do Executivo sobre as recomendações da CPI.
Entre as propostas apresentadas, a implantação de faixas exclusivas para ônibus figurava como uma das ações mais estratégicas. A medida — amplamente usada em grandes centros urbanos — permitiria reduzir o tempo de viagem, aumentar a pontualidade e ampliar a eficiência das linhas.
O relatório indicava a necessidade de implantação imediata desses corredores prioritários em avenidas como Guajajaras, Jerônimo de Albuquerque, Daniel de La Touche e dos Franceses. Estudos anexados ao documento apontavam que o tempo de percurso poderia cair até 40% nesses trechos, beneficiando milhares de usuários diariamente.
“As faixas exclusivas representam a devolução do tempo ao cidadão que depende do ônibus para trabalhar, estudar e viver a cidade. Nosso objetivo sempre foi propor soluções reais”, declarou Álvaro Pires à época da entrega do relatório.
Instaurada para apurar irregularidades e fragilidades do sistema, a CPI do Transporte ganhou protagonismo ao promover audiências públicas, diligências e análises técnicas. Para especialistas em mobilidade que participaram das discussões, o relatório simbolizou um marco no debate sobre trânsito e transporte em São Luís.
“O relatório trouxe transparência a um setor historicamente nebuloso. Era a base para uma política de mobilidade mais justa e eficiente”, avaliou um dos técnicos que acompanharam os trabalhos da comissão.
A CPI também tratou de temas estruturantes, como qualidade da frota, formação profissional de motoristas, tarifa, integração modal e necessidade de atualização da licitação do transporte coletivo.
Apesar das mais de duas dezenas de recomendações apresentadas, nenhuma das propostas foi acatada. Para Álvaro Pires, o descaso com o relatório foi determinante para o agravamento da situação atual.
“Espero até hoje que as inúmeras propostas entregues à Prefeitura sejam implementadas. O descarte total do relatório evidenciou o fracasso da gestão do sistema de transporte público da capital”, criticou o ex-relator.
Hoje, com ônibus parados, linhas reduzidas e usuários desassistidos, o documento volta à tona como um alerta não atendido — uma oportunidade desperdiçada de modernizar o transporte público e evitar a repetição de crises.
Para além das medidas estruturantes, a CPI buscou recolocar a mobilidade urbana no centro das discussões sobre desenvolvimento e justiça social. Pires afirma que o debate precisa ser retomado com seriedade e compromisso, sob risco de São Luís permanecer refém de um modelo de transporte falido.
“Transporte é um direito fundamental. As soluções estão postas desde o relatório, basta vontade política para implementá-las”, concluiu.
Enquanto isso, a população segue enfrentando atrasos, superlotação e a instabilidade crônica de um sistema que, segundo especialistas, poderia ter sido redesenhado se as recomendações tivessem sido adotadas a tempo.



.jpeg)
